sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Lorenzo Quieto

O Lorenzo chegou da escola e pediu pra colocar do Charlie e Lola e sentou, tirou as meias, já coloquei de volta, quer dizer, o Monstro da Gripe (eu inventei) colocou de volta, e tá lá, no sofá, pernas cruzadas, tão quieto, tão civilizado, que me deixou um tempo livre para voltar a escrever aqui no blog.

Afinal, acham vocês, meus parcos leitores, que é barbada ser escritor perto do Lorenzo? Não. O tempo que me sobrava depois do meu ganha-pão no escritório eu gasto, com muito gosto, com o Lorenzo. Jogar bola na sala, brincar de carrinho, de pular na cama, abrir pacotes de bolachas, fazer comidas (na verdade esquentar as que os outros fizeram), sanduíches, trocar fraldas, dar banho, limpar cara, limpar mãos, limpar chão, brigar com ele, discutir com ele, assistir o jogo de futebol (ele reclama no começo, mas assiste), assistir filmes de ação, corridas de carros e de monstros (ele é fissurado no King Kong, principalmente na parte em que ele torce pro dinossauro, afinal, o amigo da menina - a Naomi Watts - é o dinossauro, que o Lo chama de Dinossauro Rex) juntos. Ufa!

Depois disso tudo, meu segundo expediente, quando o Lorenzo resolve capotar, meu eufemismo para dormir, penso em retomar o romance, dois, na verdade, que iniciei em dezembro, um, e em 2007, o outro. Um é tão distante do outro. Um é sobre álcool, drogas, sexo sem amor, amor sem sexo e Lancheria do Parque. Na verdade é sobre outro assunto, mas essa eu não respondo, por enquanto. O outro é sobre paternidade e sobre paixão e sobre romance. O Lorenzo. Ah, o Lorenzo. Pensei eu que não viria aqui escrever coisas bobas, mas estou apaixonado pelo momento da vida que vivo. Com pouco dinheiro na conta. Pagando juros no cartão. Trabalhando sem descanso (e nem faço questão de férias). Mas sempre tem o Lorenzo. Um pouco de vinhos nas sextas. Um jogo do Inter uma ou duas vezes por mês.

É tão bom que me dá vontade de namorar de novo. Mas a Betine chega cansada. E eu já tô destruído. Sobrar tempo pra assistir um filme, qualquer, abraçados, uma bebida pra aquecer, comentários bobos, sem conversa de escola, de dinheiro, dos outros, de ninguém, simplesmente bobagens. Sim, claro que quando namoramos, namorávamos, sem Lorenzo, era outra coisa. Outra vida. Que vive dentro de nós. Uma vida não exclui a outra. Somente o cansaço as separa.

E nós sabemos disso.

Ps.: Era para escrever sobre o Lorenzo aqui? Mas sem a Betine, não existiria Lorenzo. Me deu até vontade de não ter nascido assim. Tão cínico. Sentimentos que só um Lorenzo quieto deixam aflorar.